2006/11/16

Quando o Robin dos Bosques é, afinal, o Xerife de Nottingham

Fernando Serrasqueiro, Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, apresenta-se como um Robin dos Bosques dos tempos modernos, tendo as suas flechas, nesta altura, apontadas à banca. Este ataque (sem aspas) à banca, já foi abordado sob várias vertentes (recomendo a leitura do bem humorado post do jcd no Blasfémias), mas julgo que ainda subsistem pontos importantes a focar.

No caso dos célebres arredondamentos de taxa nos contratos de crédito habitação, e partindo do principio (errado, quanto a mim) que os bancos manterão os spreads, sabem qual o seu impacto real nas rendas dos Clientes? Fiz uma simulação, com um valor de 150.000€ a 30 anos (que não andará muito longe da média do mercado), e com o pressuposto de que os arredondamentos têm um impacto no spread, em média, de 0,0625% (ver explicação em rodapé), e verifiquei que, sem arredondamentos, os clientes têm uma redução de cerca de 5€ por mês, ou seja, e para 30 anos, de 1.800€.
Temos então que o Robin dos Bosques, leia-se Fernando Serrasqueiro, tirou aos ricos, leia-se aos bancos, 1.800€ para dar aos pobres, leia-se todos nós que temos contratos de crédito habitação. Simpático… aparentemente. É que este Robin dos Bosques moderno representa, dentro das suas competências, o Estado, e o Estado, pelo simples facto de um comum cidadão celebrar um contrato de crédito habitação (mais uma vez de 150.000€), cobra:

Cerca de 750€ em emolumentos vários (registos, etc);
2.400€ de imposto de selo de crédito;
900€ de imposto de selo da hipoteca;
Cerca de 4.000€ de imposto de selo sobre os juros;
E mais de 13.000€ de IMT.

Ou seja, cerca de 20.500€, ou, se quiserem, e para 30 anos, 57€ por mês.

Perante isto, Fernando Serrasqueiro não será, afinal, o Xerife de Nottingham?


Nota1: a generalidade da banca pratica arredondamentos ao 1/8 superior. Quer isto dizer que, no máximo, o efeito dos arredondamentos na taxa final é de 1/8 e que, em média, não andará longe de metade, ou seja, 1/16 (0,0625%).
Nota2: tenho mantido uma discussão muito interessante com o RCB sobre esta e outras temáticas relacionadas com a banca, no Economia & Finanças. Este post é mais um contributo.

2 comentários:

Rui MCB disse...

O imposto de selo é o que mais alergia me provoca. É que nem uma desculpa se arranja.
Um abraço.

NG disse...

A mim também. Principalmente a palavrinha "selo", que cheira a mofo.